Trombetas de conchas antigas: ecos da música de 6.000 anos atrás

22

Descobertas arqueológicas na Catalunha, Espanha, sugerem que alguns dos instrumentos musicais mais antigos já descobertos podem ter sido usados tanto para comunicação como para expressão artística há quase 6.000 anos. Os pesquisadores identificaram doze grandes trombetas encontradas em assentamentos e minas neolíticas, que datam do final do quinto e início do quarto milênio aC. Estes instrumentos, feitos a partir de caracóis marinhos Charonia lampas, oferecem um raro vislumbre das paisagens sonoras da Europa antiga.

A descoberta e suas implicações

As conchas não serviam para alimentação – os caramujos já haviam morrido antes de serem coletados – e modificações, como a retirada da ponta pontiaguda, confirmam seu uso como trombetas. Experimentos modernos conduzidos pelo arqueólogo Miquel López García, trompetista profissional, provam que eles produzem um “tom poderoso e estável” semelhante a uma trompa francesa. Não se trata apenas de instrumentos; trata-se da comunicação humana primitiva e, possivelmente, das origens da própria música.

A descoberta desafia a nossa compreensão de como as sociedades pré-históricas interagiam. As conchas poderiam ter facilitado a comunicação de longa distância entre as comunidades ou dentro das operações de mineração, onde seis foram desenterradas em minas de variscito. O facto de conchas semelhantes terem sido utilizadas para sistemas de alerta ainda em meados do século XX, como evidenciado pela tradição familiar de García em Almería, realça a notável longevidade do instrumento.

Além da função utilitária: uma antiga herança musical

O potencial musical das conchas vai além da simples sinalização. Ao manipular o fluxo de ar e o posicionamento das mãos, os pesquisadores descobriram que podiam alterar tons e timbres, sugerindo improvisação e exploração sonora diferenciada. Isto leva a ideia da música pré-histórica para além da mera utilidade; esses instrumentos poderiam ter desempenhado funções expressivas e artísticas, promovendo laços sociais e expressão emocional.

Este não é um fenômeno isolado. A Caverna Marsoulas, na França, rendeu uma trombeta de concha de 18 mil anos com características idênticas, sugerindo uma tradição contínua que se estende por milênios. As conchas catalãs, tal como o seu antecessor paleolítico, apresentam “qualidades expressivas” que sugerem aplicações musicais mais amplas.

Visão geral: por que isso é importante

O estudo levanta questões fundamentais sobre as origens da música. A expressão musical inicial foi puramente utilitária – uma ferramenta de sobrevivência – ou resultou de necessidades humanas mais profundas de conexão, emoção e autoexpressão? As conchas sugerem que talvez ambos tenham desempenhado um papel. Esses instrumentos antigos não eram apenas ferramentas de sobrevivência; eles estavam entre as primeiras tecnologias sonoras já desenvolvidas pelo homem, com a capacidade de moldar vibrações de maneira semelhante aos instrumentos de sopro modernos.

Estas descobertas sublinham que a música não é uma invenção moderna, mas uma prática humana profundamente enraizada, evoluindo juntamente com as nossas sociedades durante dezenas de milhares de anos. Os ecos destas antigas trombetas lembram-nos que a necessidade de criar, comunicar e expressar-nos através do som é uma parte duradoura do que nos torna humanos.